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A origem dos velhos corais


Há 580ma um ancestral animal se diferenciava para originar a linhagem dos corais. Se existisse algum animal rei dos oceanos, certamente os corais seriam o castelo. Hoje não existem muitos recifes nos oceanos, mas eles ajudam a permitir a vida humana na Terra. Estudos mais atuais estimam que os corais movimentam mais de US$ 36 bilhões por ano [1;2]. Temos o que comer dos oceanos porque os corais são a comida de outros animais, são os que sustentam o nosso alimento marinho; Corais fornecem matérias-primas, regulam o clima do planeta, absorvem resíduos, purificam a água dos oceanos, controlam populações de milhares de espécies e mantêm a diversidade genética marinha. O turismo é uma das atividades que mais se beneficia, já que milhões de pessoas viajam todos os anos para litorais onde possam conhecer recifes de corais [3;4;5]. Algumas civilizações inteiras, como na Indonésia e Filipinas, dependeram dos corais para surgirem e se manterem.


"Corais movimentam 36 bilhões de dólares por ano com o turismo no mundo".



Ajustamos a Máquina do Tempo para 499ma, quando aconteceu uma extinção em massa de animais da Terra, que ainda tinha apenas os marinhos. Uma análise simples do oceano podia identificar que havia muito menos oxigênio disponível do que antes! Ou seja, um período de hipóxia (baixa de oxigênio) estava instalado nos oceanos a partir de eventos naturais do planeta. Isso foi levando à extinção centenas de espécies. Seus corpos foram soterrados em várias camadas de sedimentos, o que levou à sua fossilização. Reajustando a Máquina do Tempo para 2007, descobrimos as evidências que mostram que os oceanos ficaram bem mais sufocantes para os animais há 499ma (no Cambriano) [6;7]. Existem formações rochosas que têm uma camada mais profunda onde são encontradas versões radioativas (isótopos) de átomos de carbono e enxofre, que foram depositados em uma única camada. Porém esta quantidade é muito maior do que em qualquer outra camada mais recente que do Cambriano. Nos oceanos, a única possibilidade de encontrar tanto carbono e enxofre soterrados em uma camada é em baixa concentração de oxigênio. Portanto, essa camada de sedimentos denuncia que, no Cambriano, enquanto carbono e enxofre estavam massivamente sendo soterrados, havia pouco oxigênio. E isso teria levado à morte milhares de espécies ao longo dos milhões de anos. Para a natureza, muitas vezes um milhão de anos são como meros minutos na evolução.

"Os primeiros corais não criavam recifes, isso só surgiu depois com os bioconstrutores".


Os primeiros corais não construíam recifes, porque eram animais de corpo mole incapazes ainda de acumular o carbonato de cálcio na base de seus corpos. Hoje temos uma linhagem de corais (Scleractina) [8] que é bioconstrutora, ou seja, são animais capazes de construir recifes vivos feitos de parte animal (o próprio corpo), mineral (a base rochosa de carbonato de cálcio) e uma parte vegetal. Essa parte vegetal é um acordo que a natureza fez entre alguns animais corais e algas chamadas zooxantelas. Elas se associaram a estes corais há 250ma, e fornecem a maior parte do alimento para estes animais através de sua fotossíntese. Em troca, o coral oferece abrigo a estas algas.

"Muitos corais escravizam algas para conseguir alimento a mais. Só assim sobrevivem".

Pólipos de corais com algas zooxantelas (marrons) em seu interior. Foto de http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeodYAG/trabalho-sobre-recifes-coral.

A Terra estava cada vez mais aquecendo, o clima estava mudando lentamente há muitos milhões de anos. Este aquecimento ajudou os primeiros corais duros a produzirem uma base de rochas calcáreas, porque tornou o carbonato de cálcio mais disponível. Os ancestrais de corpo mole destes corais (Scleractina) suportaram mudanças climáticas naturais por 450ma, até que era chegada a hora de conseguirem produzir castelos rochosos. Um pequeno ajuste na nossa Máquina do Tempo nos leva um pouco de volta para o futuro para ver os primeiros corais duros com algas escravas produzindo alimento para eles.


Muitas civilizações se estabeleceram no entorno de recifes, que as sustentam".


Imagem da Grande Barreira de Corais da Austrália, vista do espaço.

Chegamos no passado a 580ma na origem dos primeiros corais. Fomos a 499ma quando os corais sobreviveram às extinções em massa ocorridas pela diminuição de oxigênio nos oceanos. E chegamos em 250ma, no Período Triássico, quando aparecem os corais duros bioconstrutores dos grandes recifes [9]. O curioso é que a maior barreira de corais – a Grande Barreira da Austrália - teria começado a crescer há apenas cerca de 20 mil anos [10], e pode ser vista do espaço [11]! Civilizações se estabeleceram perto de recifes de corais, e hoje se sustentam com eles.


"Uma a cada 4 espécies marinhas dependem dos corais para sobreviverem. Alguns têm mais de mil anos de vida".


Reconstituição da Terra no final do Período Cambriano. Fonte: www.scottese.com.

O aquecimento global tem levado à morte as algas que fazem a simbiose com corais e produzem alimento para eles, e com isso corais têm morrido (efeito de branqueamento dos corais). Uma a cada quatro espécies marinhas depende dos corais para viverem. E todas fazem parte do complexo de recursos que os humanos usam, de princípios ativos na medicina aos alimentos e turismo. Até no Rio Amazonas foram descobertos recifes de corais vivos [12]. Os animais de maior longevidade na Terra são os corais. Usando o Carbono 14, já descobrimos que alguns passam dos 4 mil anos de vida [13;14]! Parecem antigos? Se o primeiro ancestral de coral da Terra tivesse 100 anos, estes corais seriam meros recém-nascidos com apenas 6hs de vida.



Na próxima Rádio Animal, a Máquina do Tempo encontra uma Terra muito modificada, onde novos animais surgem após outras extinções. Enquanto os oceanos sobem, surge uma das maiores diversidades animais da história da Terra.


[1] https://www.nature.org/newsfeatures/pressreleases/coral-reef-tourism-is-worth-36-billion-to-the-travel-industry-and-host-natio.xml

[2] SPALDING, M.; BURKE, L.; WOOD, S.A.; ASPHOLE, J.; HUTCHISON, J.; ERMGASSEN, P. zu. 2017. Marine Policy, 82: 104-113. [3] https://blogs.scientificamerican.com/observations/how-much-are-coral-ecosystems-worth-try-172-billion-a-year/ [4] https://global.nature.org/content/coral-reef-tourism?src=r.v_coralreeftourism.cam_wttc

[5] SPALDING, M.D.; BRUMBAUGH, R.D.; LANDIS, E. 2016. Atlas of Ocean Wealth. The Nature Conservancy (Ed.), Arlington (Virgínia), Estados Unidos, 110p.

[6] https://www.newscientist.com/article/dn19916-oxygen-crash-led-to-cambrian-mass-extinction/ [7] GILL, B.C.; LYONS, T.W.; SALTZMAN, M.R. 2007. Parallel, high-resolution carbon and sulfur isotope records of the evolving Paleozoic marine sulfur reservoir. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 256 (3-4): 156-173.

[8] STANLEY JR., G.D. 2003. The evolution of modern corals and their early history. Earth-Science Reviews, 60 (3-4): 195-225.

[9] STOLARSKI, J.; KITAHARA, M.V.; MILLER, D.J.; CAIRNS, S.D.; MAZUR, M.; MEIBOM, A. 2011. The ancient evolutionary origins of Scleractinia revealed by azooxanthellate corals. BMC Evolutionary Biology, 11 (316): 1-10. [10] http://ocean.si.edu/corals-and-coral-reefs [11] https://www.jpl.nasa.gov/spaceimages/details.php?id=pia03401

[12] https://news.nationalgeographic.com/2017/01/photos-amazon-coral-reef-discovery-research-science/

[13] ROARK, E.B.; GUILDERSON, T.P.; DUNBAR, R.B.; FALLON, S.J.; MUCCIARONE, D.A. 2009. Extreme longevity in proteinaceous deep-sea corals. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 106 (13): 5204-5208. [14] https://www.llnl.gov/news/deep-sea-corals-may-be-oldest-living-marine-organism





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