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De onde vêm os primeiros animais?


O calendário marca 4,533 bilhões de anos atrás. A Terra é uma imensa bola de fogo, uma jovem em formação. Um corpo celeste do tamanho de Marte se choca com a Terra, jogando para o espaço uma parte dela. Estas rochas se condensam para formar, em bilhões de anos, a nossa Lua. Quase 3,8 bilhões de anos depois, surgem os primeiros animais: ctenóforos, esponjas e águas-vivas.

A partir de agora, as noites de super lua cheia em um mar de águas-vivas poderão ter um outro sentido para você. Será?

Na nova série da Rádio Animal, a gente usa uma ficção da Máquina do Tempo para viajar entre vários momentos para entender (ou tentar) como certos animais convivem com a humanidade moderna, e outras tantas linhagens foram extintas. O que deu certo ou errado?

O cenário descrito inspirou o primeiro episódio da série "De Volta para o Futuro".

Na vida real, ainda estamos longe de viajar no tempo, passeando na linha passado-presente-futuro em duas vias. Mas os humanos modernos desenvolveram a inteligência, e conseguem, todos os dias - em algum lugar do mundo – pesquisar os vestígios deixados por ancestrais animais. Dezenas de paleocenários e seus paleoambientes [1;2] já foram reconstituídos usando evidências, ou seja, rastros de pistas que a natureza deixa. Já sabemos como eram as Terras primitivas em que os primeiros animais surgiram. É no plural mesmo, porque o planeta já se modificou tantas vezes, que podemos dizer que a Terra tem muitas faces desde que surgiu.

A viagem no tempo ainda não existe fisicamente, mas com a ajuda das diversas ciências - e da ficção científica - a Rádio Animal criou uma máquina do tempo, em que a gente pode descobrir o que aconteceu para que o Homo sapiens chegasse a esta Terra e a este cenário com os animais que convivem conosco. Afinal, por que este é o cenário animal que nos foi herdado entre tantas Terras que existiram?

"Entre tantas Terras, esta é a que a humanidade herdou".


A primeira data que colocamos é 713 milhões de anos! O cenário é de uma Terra congelada. Por cima, vemos um super continente chamado Rodinia [3]. Ali está a origem dos primeiros animais, mas onde eles estão? Chegamos no período que foi uma das Eras Glaciais mais severas do planeta! E para encontrar animais, só indo para o litoral de Rodinia. Esponjas, águas-vivas e ctenóforos são vistos nos oceanos primitivos, e nenhum animal a mais! O horizonte não tem plantas, porque elas ainda não surgiram. Isso só iria acontecer em 1 bilhão de anos!

Reconstituição do super continente Rodínia, há 750 milhões de anos. Em azul-claro, as camadas congeladas da Era Glacial mais severa de todos os tempos. Mesmo assim, a vida animal surgia.

Os oceanos ainda estão cheios de seus ancestrais, que são algas unicelulares. A paisagem tem fósseis curiosos, mas às vezes esquecidos, chamados de estromatólitos [4]. Eles são microorganismos fossilizados, então a aparência é de rochas. Mas o que tem de mais fantástico neles é que foram eles os primeiros seres a produzirem oxigênio para formar nossa atmosfera. Ou seja, por quase 3 bilhões de anos, bactérias produtoras de oxigênio ocuparam a Terra primitiva, e mudaram a atmosfera de um planeta que não tinha oxigênio disponível! Chegando perto de um desses fósseis, vimos que estavam sendo consumidos por outras células. O que a natureza produziu, ele mesma desfaz. Nada se perde, nada é criado, tudo se transforma.

Estromatólitos (rocha à direita) são formados por cianobactérias (que produzem oxigênio pela fotossíntese) cobertas por sedimentos, o que as fossiliza.

Bactérias levaram 3,8 bilhões de anos para encher a atmosfera da Terra de oxigênio. Respiramos o pro

"A Terra já foi uma bola de fogo e uma bola de gelo. E foi no frio que os animais surgiram, há quase 750 milhões de anos".

A curiosidade era grande em saber como cientistas do futuro conseguiriam reconstituir um cenário primitivo. Então entramos de volta na Máquina do Tempo, e fomos de volta para o futuro, na modernidade humana. Desembarcamos no deserto da Namíbia, no ano de 2018. Uma formação rochosa chama a atenção no deserto africano. Ela é um paredão rochoso, mas com desenhos geológicos diferentes. A camada de cima é de rochas carbonáticas que só se formam em águas quentes. Essas rochas foram se depositando ao longo de milhões de anos sobre uma segunda camada totalmente diferente, que tem rochas que só são encontradas em geleiras [5]. Portanto, a natureza deixou um rastro nos paredões rochosos da desértica Namíbia, comprovando que, um dia, a Terra experimentou tempos de gelo extremo depois do calor temperatura esquentou. O cenário gelado dessas rochas é o que vemos viajando no tempo há 713 milhões de anos! É por isso que esse período é chamado de Criogeniano (criogênico, de "gelado").


A lua cheia influencia a migração de várias espécies de águas-vivas.

Neste futuro em que vivemos, as águas-vivas e esponjas estão na Terra há 713 milhões de anos! E é curiosa a relação das águas-vivas com a nossa lua. Muitas espécies surgem em praias preferencialmente à noite, e em geral durante ou próximo do período de lua cheia. Em Israel, por exemplo, águas-vivas preferem aparecer durante noites de lua cheia [6]. Já no Havaí, a espécie Carybdea alata prefere aparecer na semana anterior à lua cheia [7]. Já sabemos que, além da temperatura do mar, as fases da lua contam no ciclo de vida das águas-vivas. Mas e se não tivesse lua? Já que temos uma máquina do tempo, colocamos na data de 4,52 bilhões de anos no passado. Não foi a melhor ideia... esta é a data em que a Terra recebeu o impacto de um corpo celeste do tamanho do planeta Marte [8]! O choque foi tão grande que parte da Terra primitiva se desprendeu para o espaço. Em bilhões de anos, este pedaço foi estabilizando sua órbita, sua forma, e se tornou nosso satélite natural de todas as noites [9;10;11] - a lua dos apaixonados. Pense que esta mesma lua um dia surgiu de um pedaço do planeta em que estamos. A composição química e geológica das rochas da lua é a mesma da Terra! E só descobrimos isto em 2016, estudando uma amostra de rocha lunar coletada pela Apollo 14 em 1971!


"A lua foi formada após um choque entre a terra e um corpo celeste do tamanho de Marte".


A lua é o corpo celeste que hoje reflete a luz do sol à noite, controla nossas marés [12] e, consequentemente, influencia na vida animal da Terra. Na natureza, de um cataclisma – de um planeta se chocando com a Terra e destroçando parte dela – surge algo que influencia a vida no nosso planeta.

"Se o surgimento da vida animal equivalesse a 24hs, o Homo sapiens teria surgido há apenas 23s".


De volta à máquina do tempo, melhor uma Terra bola de gelo há 713ma do que uma bola de fogo. Mas melhor mesmo é colocar o ano de 2018, escolher uma praia à noite e pensar que essa lua de verão veio da Terra. E que águas-vivas estão no mar há 713 milhões de anos, influenciadas pela lua. Animais tão fantásticos que são imortais se não forem predados. Algumas medusas se assemelham a esta série da Rádio Animal, porque são máquinas do tempo da natureza. Os adultos conseguem regredir ao estágio juvenil, e voltar ao adulto várias vezes. Esta é apenas uma das muitas Terras que já existiram em um mesmo planeta. A cada semana, a gente viaja para um período diferente, e entende como esses animais que convivem com a humanidade sobreviveram tanto. Se o surgimento da vida animal fosse equivalente a 24hs, o Homo sapiens teria surgido apenas há 23s. Acabamos de chegar e já queremos sentar na janela, e pilotar ao mesmo tempo. E estamos só de passagem.


Na próxima Rádio Animal, uma visita às montanhas australianas que um dia colocaram a evolução animal em cheque. Pela primeira vez, parecia que a vida animal tinha surgido do nada. Será?


[1] http://www.fossilmall.com/Science/GeologicalTime.htm [2] http://www.scotese.com/earth.htm [3] http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/rodinia.htm [4] http://www.ib.usp.br/evosite/evo101/IIE2aOriginoflife.shtml [5] https://www.climate.gov/news-features/climate-qa/whats-hottest-earths-ever-been [6] http://www.abc.net.au/news/2016-08-26/moon-is-key-to-when-jellyfish-hit-beach:-israeli-study/7787126

[7] NAGAI, H.; TAKUWA, K.; NAKAO, M.; SAKAMOTO, B.; CROW, G.L.; NAKAJIMA, T. 2000. Isolation and Characterization of a Novel Protein Toxin from the Hawaiian Box Jellyfish (Sea Wasp) Carybdea alata. Biochemical and Biophysical Research Communications, 275 (2): 589-594.

[8] https://www.popsci.com/new-evidence-moon-formed-from-melted-bits-earth [9] https://www.popsci.com/new-evidence-moon-formed-from-melted-bits-earth [10] http://www.independent.co.uk/news/science/moon-age-how-old-earth-planet-satellite-science-scientists-ucla-a7524071.html

[11] https://sservi.nasa.gov/articles/nlsi-scientists-shed-light-moons-impact-history/ [12] https://mundoestranho.abril.com.br/ambiente/como-as-fases-da-lua-influenciam-as-mares/





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