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A bancada ruralista dos perus

Nós, os perus, somos novos no mundo animal. Evoluímos na subfamília Meleagridinae há cerca de 5 mil anos [1]. Proporcionalmente, se o aparecimento da vida animal fosse uma partida de futebol de 90 minutos, os perus teriam aparecido para jogar nos últimos 4 centésimos de segundo. Ou seja, na evolução da vida animal, acabamos de entrar em campo.



"Se a vida fosse uma partida de futebol, os perus teriam entrado nos últimos 4 centésimos do 2º tempo".


Peru (Meleagris gallopavo) agasalhado. Trocadilhos proibidos neste post científico.

Aliás, os perus têm uma relação íntima com os humanos: somos nome de países, de partes íntimas masculinas, dondocas da sociedade (vulgo "peruas"), comida na simbologia de feriados (Ação de Graças e Natal) e somos uma diversão sádica nas temporadas de caça [2]. Os perus são vítimas de uma sociedade humana violenta desde que começaram a ser domesticados. Os parentes mais próximos dos perus são todos vítimas da ruralização: faisões, pavões, galinhas selvagens e domésticas e as codornas. O que todos têm em comum? Todos são lembrados por serem comida do campo. Há 30 milhões de anos os ancestrais dos perus viviam soltos em campos abertos, mas foram ruralizados para servirem de comida. Fomos domesticados duas vezes ao mesmo tempo [3]: no México e no sul dos EUA. Só haviam sobrado os perus mexicanos, porque os dos EUA foram consumidos! Os europeus nos levaram do México, e depois os ingleses foragidos trouxeram de volta para os EUA quando ainda era uma colônia européia. As Treze Colônias (dos imigrantes ingleses que fundaram os EUA) criaram o tal dia de Ação de Graças em que é tradição comer perus. Mas viemos de fora! Hoje a maior parte dos perus consumidos nos EUA têm origem mexicana [4]! Hoje somos super alimentados e induzidos a tomar antibióticos para sermos comida no Natal.

"Os perus de Ação de Graças são de origem mexicana!".


Como representantes de uma família (Phasianidae) explorada, nossa plataforma pretende criar a maior bancada ruralista de todos os tempos. Somos a favor de transgênicos e contra o uso de agrotóxicos. Os humanos deturparam a utilidade da transgênese, que sempre existiu na natureza. Plantas, bactérias e vírus já trocam trechos de DNA há milhões de anos. Só animais ainda não conseguem roubar pedaços de DNA que interessem. A polêmica de transgênicos criada pelos humanos jamais teve fundamentos, a não ser o medo do desconhecido.


"Enviro-pig é um porco patenteado transgênico que polui menos o solo. A patente é canadense".

A Bancada Ruralista dos Perus se interessa em roubar trechos de DNA que sejam vantajosos, e contamos com nossos companheiros porcos para provar que somos ruralistas a favor do ambiente. Temos um projeto de lei que reduz a deposição de resíduos com fósforo tóxico ao ambiente. Acontece que empregaremos o porco ecológico ou "enviro-pig". Um porco "eco-friendly", ou seja, "amigo do ambiente". O "Enviro-pig" [5;6] é um porco transgênico, criado e patenteado pelos humanos, que tem o gene da enzima fitase introduzido. Essa enzima faz o porco digerir o fitato, que está nos grãos de sua alimentação. Com isso, eles absorvem mais fósforo, em vez de excretar. O fósforo polui o solo onde os porcos comuns excretam, e com esse gene eles liberam até 70% menos fósforo!


"Trechos de DNA são a moeda do futuro. Chupem, bitcoins!".


Imagine se pudéssemos usar trechos de DNA como moeda de troca por votos para termos nossos projetos de leis aprovados... a bancada ruralista dos perus seria a maior articuladora no Congresso Animal. Criaríamos super animais, resistentes a doenças, que precisam de menos água, menos espaço, mais saudáveis. Não precisaríamos usar agrotóxicos nas plantas que servem de alimento, pois elas seriam modificadas para serem resistentes. Ovelhas teriam pêlos melhores, cavalos teriam filhotes mais saudáveis, vacas teriam leite mais nutritivo. A reforma agrária, que é uma distribuição de terras mais justa, seria passado. O futuro é da reforma genética, com uma distribuição mais justa de trechos vantajosos de DNA animal. Claro que quem determina o que é justo e como será essa distribuição serão os perus, chefes da bancada ruralista. Tornaremos o líder da nação um mero personagem dependente da nossa aprovação dos projetos de lei. A engenharia genética é a moeda do futuro, mais valiosa do que qualquer "bitcoin". Os trechos de DNA valerão muito mais do que o dinheiro inventado pelos humanos; eles valerão influência. Os "enviropigs" foram patenteados pelos humanos. A bancada ruralista dos perus fará o mesmo com todos os genes importantes. Os perus são domesticados e ruralizados desde 300 AC pelos Maias no México [7], e são das aves mais consumidas do mundo. Mas uma nova ordem política pode mudar isso.


[1] https://www.smithsonianmag.com/science-nature/14-fun-facts-about-turkeys-665520/

[2] http://americanhistory.si.edu/blog/story-four-thanksgiving-ingredients

[3] MAYR, Gerald. 2016. Avian Evolution: The Fossil Record of Birds and its Paleobiological Significance. Willey-Blackwell Eds., 316 pp.

[4] https://www.si.edu/spotlight/thanksgiving/thanksgiving-foods [5] http://scienceblogs.com.br/synbiobrasil/tag/enviropig/ [6] https://www.nature.com/scitable/knowledge/library/transgenic-animals-in-agriculture-105646080

[7] https://www.sciencedaily.com/releases/2012/08/120809090706.htm

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